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terça-feira, 24 de janeiro de 2012

‘Ocidente força Irã a buscar bomba nuclear’

‘Ocidente força Irã a buscar bomba nuclear’
Ex-porta-voz de Teerã nas negociações com potências critica pressão internacional
Ángeles Espinosa, do El País

Publicado:
24/01/12 - 7h30
Atualizado:
24/01/12 - 7h30


Comentários: 10 Envios por mail: 1 DUBAI - O embaixador Hossein Mousavian foi porta-voz da equipe de negociadores do Irã nas conversas nucleares com a União Europeia durante o governo de Mohammad Khatami, entre 2003 e 2005. Após a vitória de Mahmoud Ahmadinejad naquele ano, ele permaneceu como conselheiro de política exterior do novo chefe negociador, Ari Larijani. Até abril de 2007, quando ele foi preso sob acusação de espionagem. O juiz não aceitou a denúncia, mas o inabilitou para exercer seu trabalho de décadas, a diplomacia. Pouco depois da controversa reeleição de Ahmadinejad, em 2009, Mousavian se refugiou na universidade americana de Princeton, onde é professor e pesquisador. Mas o mais alto ex-funcionário do governo iraniano que mora nos EUA mantinha seu silêncio.

Até que começou a dar palestras e publicar artigos acadêmicos, há alguns meses. Neste fim de semana, aceitou responder às perguntas de “El País” por e-mail. Para ele, “o Ocidente não está deixando ao Irã nenhuma opção a não ser buscar a arma nuclear”.

O GLOBO: Há crescentes rumores sobre planos israelenses de ataque às instalações nucleares do Irã. O senhor crê que existe um risco real de que isso aconteça?

HOSSEIN MOUSAVIAN: Israel vem ameaçando atacar militarmente o Irã desde 1988, desde o fim da invasão iraquiana no Irã. Entretanto, nunca foi capaz de cumprir essas ameaças. Hoje, o risco é real, mas eu não acredito que Israel ataque o Irã sem o aval dos EUA. E estou convencido de que o governo americano não apoia um ataque militar porque sabe que as consequências seriam catastróficas e arrastariam a comunidade internacional a um caos incontrolável. No caso de um ataque, a existência de Israel estaria mais ameaçada do que nunca.

O GLOBO: Para os israelenses, a prioridade é impedir que o Irã obtenha a capacidade nuclear irreversível. O Irã já chegou a esse ponto?

MOUSAVIAN: Em primeiro lugar, os israelenses não estão em posição de fazer exigências ao Irã, porque o Irã é membro do Tratado de Não Proliferação e não possui armas nucleares. Já Israel é o único país do Oriente Médio que possui armas nucleares e desafia as solicitações da Agência Internacional de Energia Atômica e da comunidade internacional. Em segundo lugar, o Irã já alcançou a capacidade de fabricar armas nucleares caso decida fazê-lo. Mas ter a capacidade de fabricar armas nucleares não é uma violação do TNP. Outros países-membros, como Japão, Alemanha, Argentina e Brasil também têm essa capacidade, e não são alvo do escrutínio internacional.

O GLOBO: O senhor tem segurança para continuar afrmando, como fazia quando participava das negociações, que o governo do Irã não busca armas atômicas?

MOUSAVIAN: O que me preocupa é a estratégia do Ocidente, que na prática não está deixando ao Irã outra opção a não ser buscar a arma nuclear. O Ocidente começou uma guerra global econômica contra o Irã. As pressões e sanções impostas ao Irã são maiores do que as sofridas pela Coreia do Norte, apesar de o Irã ser signatário do TNP e não possuir bombas atômicas, e de a Coreia do Norte ter se retirado do tratado e já ter armas nucleares. Enfrentado a essa realidade, se o Irã já pagou um preço maior do que a Coreia do Norte, por que não ter também a arma dissuasória?

O GLOBO: As sanções financeiras dos EUA e um eventual embargo de petróleo da União Europeia vão mudar alguma coisa nos planos nucleares do Irã?

MOUSAVIAN: Sanções de qualquer espécie prejudicarão a economia do Irã, mas não vão fazê-lo obrigar a renunciar a seus direitos legítimos garantidos pelo TNP, que incluem o enriquecimento de urânio. O Irã vem sofrendo sanções desde a revolução de 1979, mas avançou consideravelmente os campos nuclear, químico, biológico e balístico.

O GLOBO: Um deputado iraniano assegurou que uma recente carta de Obama ao líder supremo Ali Khamenei incluía um convite ao diálogo. Ainda há possibilidade de diálogo? Quais interesses impedem esse diálogo?

MOUSAVIAN: A última palavra nas relações entre o Irã e os EUA cabe ao aiatlá Khamenei. Minhas duas décadas de experiência na política exterior iraniana me fazem acreditar que o Irã sempre esteve disposto a uma relação justa baseada no seguinte: 1) que os americanos assegurem que sua intenção real não é a mudança de regime no Irã, já que o líder supremo sempre acreditou que o objetivo central dos EUA desde 1979 é a mudança de regime por qualquer meio possível; 2) que os americanos busquem uma relação baseada na não interferência, no respeito mútuo e no reconhecimento dos interesses legítimos do Irã na região e fora dela. O fato é que nenhum governo americano desde a Revolução Iraniana conseguiu orquestrar uma política para o Irã baseada num marco realista. Todos os governos americanos só competiram para aumentar sanções, pressões ea maeaças ao Irã. O presidente Obama começou seu mandato prometendo conversar com o Irã e mudar uma história de 30 anos de inimizada, mas agora se diz orgulhoso de ter conseguido mobilizar o mundo e estabelecido um regime de sanções “sem precedentes” contra o Irã.

O GLOBO: Como os EUA podem conversar com o Irã enquanto porta-vozes iranianos ameaçam fechar o estreito de Ormuz?

MOUSAVIAN: Se a política dos EUA está baseada em manter “todas as opções sobre a mesa”, a política do Irã fatalmente será a mesma. Ameaças geram ameaças.

O GLOBO: Sua substituição depois das eleições de 2005 era esperada, mas por que o senhor foi preso? O seu caso foi parte de uma disputa interna por poder?

MOUSAVIAN: Desde minha detenção em abril de 2007, decidi manter silêncio sobre os motivos da minha prisão, e vou continuar a fazê-lo.

O GLOBO: O sr. deixou o Irã após a controversa reeleição de Ahmadinejad. As duas coisas estão relacionadas? O sr. já voltou ao país desde então, ou existe algo que impeça seu regresso?

MOUSAVIAN: Eu não posso exercer nenhum cargo diplomático por cinco anos, contados a partir de abril de 2008. Decidi dedicar esse tempo aos estudos acadêmicos.

O GLOBO: Naquela época, o sr. minimizou a possibilidade de mudança de regime em Teerã, apesar das manifestações. O sr. mudou de opinião depois da Primavera Árabe? O que torna o Irã diferente dos seus vizinhos?

MOUSAVIAN: Após dois anos e meio, vemos que eu estava certo. Enquanto aumentarem as pressões do Ocidente na esperança de forçar a mudança de regime, estou convencido de que isso não vai acontecer.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/mundo/ocidente-forca-ira-buscar-bomba-nuclear-3747193#ixzz1kQlXbnQd
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